05342635 / é o meu número, o meu nome, minha identidade
Mínimo salário é o meu ordenado / 12 horas de trabalho
Que felicidade / que felicidade
Acordo sem dormir / faço pelo sinal
Ouço o radinho de pilha / pra saber do horário
Preparo quase nada / e levo na marmita
Vou dependurado / e os sinais fechando
Chego atrasado / é cortado o dia
São tanto os descontos / que nem mesmo sei
Me falam de vantagens / que eu jamais ganhei
É o INPS, FGTS / IR, ISS, o seguro e o PIS
Com trinta de trabalho / estou aposentado
E com mais de 70 / eu penso ser feliz
Ye Ye ye ye ye
Ye ye ye ye ye
Ye ye ye ye ye / chorei meu choro – dor
Chorei na dor maior do amor
Meu choro – dor
Meu choro – dor / desceu qual o charriot
Rolando na ribanceira / se fez uma cachoeira
Em prantos a desaguar
Meu choro – dor / seguiu rumo à correnteza
E foi se guardar na represa / das profundezas do mar
Um choro assim / daqueles que não tem fim
Que é faca / facão de dois gumes
Que é lume na escuridão
Meu choro – dor / lavou toda minha alma
Depois trouxe a paz e a calma / brilhando meu coração
Samba roxinha samba / samba prá gente ver
Roda roxinha roda / mostra o seu rebolê
Dança roxinha dança / bambeia igual pião
Canta roxinha canta / encanta esta multidão
Roxinha / quando você dá uma rodada
Não é só a arquibancada / que se rende aos teus pés
É toda a escola de samba / de onde és
Que se sente orgulhosa / ao te ver tão soberana
E é neste momento que eu vejo / quanta vontade e querer / de gente querendo ser você
Não, não importa saber / se é nobre ou se mora na favela
O importante roxinha / é que neste três dias / és a alteza na passarela
Eu vou / vou com Crispim
Ao samba de chula / na casa de Seu Joaquim
Tem uma viola de 12 / tem uma de 8 / tem outra de 10
Cê vê sinhazinha sambando / parecendo que tem quiabo nos pés
Vai deslizando nos grãos de areia / sai piabando, igual sereia
A primeira umbigada / a baiana que dá
Também sou baiano / também quero dar
Tem um pandeiro oco / chocalho choco na marcação
Cê vê poeira subindo / das tamancas que arrastam / as pitangas do chão
E as cadeiras bulindo, oi / e as cadeiras bulindo
No alto da Santa Cruz / fim de linha do Nordeste
Onde a chula aparece / feita dança e defesa
Por isto que Amaralina / nunca mais viu a tristeza
Yê, eu vim de Luanda, ê / Eu vim de Luanda, ê / Meu Luanda
Lá na Bahia / todo branco tem um nêgo na famia
Gegê, Bantu ou Nagô
Seu Doutor, eu vim de Luanda / prá namorar com sua fia
Nêgo amor, nêgo amor
Ponha rendas na varanda / e a moça na sacristia
Ela já disse que sim / não precisa de alforria
Antes da abolição / A lição eu já sabia
Na Bahia todo branco / tem um nêgo na famia
Yê, Eu vim de Luanda, ê / Eu vim de Luanda, ê/ Meu Luanda
O luar lá de Luanda / anda nas bandas de cá
Fui oiá pra sua fia / vi o mundo clarear
Seu Alvinho e Dona Clara / têm medo de noite virar dia
Vê a sua fia branca / Aumentar mulataria
Yê Quilombos da Bahia / Neste mundo, todo mundo
Tem um nego na famia
Yê, Eu vim de Luanda, ê….
Você foi cimento fraco, meu bem / na construção do nosso lar
Você foi cimento fraco no pilar / a base cedeu, lá se foi nosso lar
O rádio entortou / a viga partiu
A parede rachou / o patamarse abriu
A madeira solou / o telhado caiu
O traço da massa foi fraco / pro piso e pro teto
Você foi cimento fraco / no concreto
Eu preparei meu terreno com o gabarito / de pedra dura estrutura e alvenaria
Fiz todo piso em mármore ferro e granito / e com madeira de lei eu fiz as esquadrias
E agora me vem você com seu cimento fraco / todo fracasso da obra da minha ilusão
Só o que me resta agora / é carregar nos ombros
Destroços, escombros / do amor em demolição
Quanto mais a gente cresce / bem menor a gente fica
Quanto mais a gente ama / mais se aproxima o sofrer
Mas, que fazer, se são das dores do mundo / que fazemos o alicerce do viver?
Sobrevivi, dilacerei / orgulho do rei, punhal na mão
Sobrevivi, dilacerei / orgulho do rei, punhal na mão
E assim provinciano era meu sorriso / prefácio de um poeta que eu sonhava ser
Fui fazendo versos, fui rimando a vida / me dando sem pensar em nada receber
Das minhas mãos aflitas, fiz a paz mais pura / do meu canto tristonho, fiz um rouxinol
Mas acabou meu sonho, a vida veio dura / Eu vi que um sol maior não é um tom menor
Aí caí no mundo como o mundo gosta / com o sorriso à mostra e o punhal na mão
Dilacerei meus versos e não mais sonhei / me fiz combatente, orgulho do rei
E hoje mergulhado sob essa certeza / que pena que me dá de assim ter que ser
Guardar marcas na alma, mas trazer na face / a fúria do processo de sobreviver
Amor, amor, amor, amor / amor, amor, amor, amor
Gostaria de lhe escrever / um poema ou uma canção
Mas sendo eu um poeta aprendiz / mando estes versos que fiz
Ditados por meu coração
Amor, amor, amor, amor / amor, amor, amor, amor
São versos simples / mas verdadeiros
De um coração sofredor
Que se deu por inteiro / e em tantas batalhas lutou
Se não venceu a guerra / pelo menos pelejou
Seu motorneiro / toque o bonde nessa linha
No caminho da Estrada da Rainha
Pelos trilhos a seguir / Cidade Nova, Iapi
Que o meu destino é ir / ver os Reis na Lapinha
Terno das flores das rosas girassóis / a cantar as pastoras, bombardinos e taróis
Lamparinas clareando a Soledade / segue o rancho com estandarte cantando a liberdade
Oh Oh Oh Oh Oh / Oh Oh Oh Oh Oh
Baticum que vem de Aruanda / Axé, divina fé, força que manda
É uma dança, é reza, é crença / que vem do além-mar
O rumpi rompendo aurora para anunciar / Gêge, Nagô e Keto
É lamento, é canto preto / das terras dos orixás
Lê lê lê lê lê / Lê lê lê lê lê
De mistério tão profundo / segredos que vêm do fundo
Do baú do canjerê / é como a dança do tempo
É como o canto do vento / que comandam o viver